Obesidade e tratamento no século 21
Rachel Giovanella
Publicado em 12 de junho de 2022
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Obesidade e tratamento no século 21

Sumário

Tratamento para emagrecimento por um médico de obesidade, especialista em endocrinologia, tem sido cada vez mais necessário. A Dra Rachel Giovanella possui formação em endocrinologia com ampla experiência no tratamento do sobrepeso e obesidade. Com atendimento individualizado e de qualidade realiza investigação das doenças associadas à obesidade e determina a medicação adequada para cada caso, baseado no padrão alimentar e nas necessidades do paciente.

Crescimento da obesidade

A obesidade tem crescido em ritmo assustador na nossa população, inclusive entre crianças e adolescentes. Segundo a Agência Brasil, dados de 2021 indicam que o sobrepeso já atinge 55,4 % da população, enquanto 20,3% já se encontram com obesidade.

O status nutricional pode ser avaliado pelo ÍNDICE DE MASSA CORPORAL- IMC, calculado dividindo-se o peso (kg) pela altura ao quadrado (metros) e é classificado conforme abaixo.

  • IMC entre abaixo de 18,5 kg/m2: baixo peso
  • IMC entre 18,5 e 24,9 kg/m2: peso normal
  • IMC entre 25,0 e 29,9 Kg/m2: sobrepeso;
  • IMC entre 30,0 e 34,9 Kg/m2: obesidade grau I;
  • IMC entre 35,0 e 39,9 Kg/m2: obesidade grau II;
  • IMC maior do que 40,0 Kg/m2: obesidade grau III.

Além da estética

Muito além da questão estética, o acúmulo excessivo de gordura corporal está associado com o aumento no risco de mais de 30 doenças que podem ficar um longo período ocultas e levam a uma redução nos anos de vida. Entre elas as doenças cardiovasculares, doenças respiratórias crônicas, as neoplasias (cânceres), diabetes, hipertensão, aumento do colesterol e suas complicações, gordura no fígado, dores articulares entre outros.

Pacientes obesos apresentam limitações de movimento, tendem a ser contaminados com fungos e outras infecções de pele em suas dobras de gordura, sobrecarregam a coluna e membros inferiores, apresentando, em longo prazo, degenerações (artroses) de articulações da coluna, quadril, joelhos e tornozelos, além de problemas de circulação com varizes, úlceras de repetição e erisipela.

Prevenção da Obesidade

A prevenção da obesidade deve ser iniciada desde a infância, adotando hábitos saudáveis pela família e incentivando a prática de atividade física, pois a construção de tais hábitos ocorre nesta fase. Frequentemente vemos pais obesos, criando filhos obesos, muito mais por hábitos ruins do que por genética.

O consumo de alimentos industrializados ricos em carboidratos e gorduras trans e a redução de alimentos in natura pode explicar, em parte, o aumento da incidência de obesidade na população. O aumento do tempo em frente das telas, sentado, sem atividade física também reduz o gasto energético piorando a situação.

Tratamento da Obesidade

A mudança do estilo de vida, que compreende reeducação alimentar e atividade física, é a base do tratamento clínico da obesidade. Sem ela, dificilmente se atingirá uma perda de peso saudável e duradoura.

Reeducação Alimentar

A reeducação alimentar é fundamental para que, além de reduzir a ingestão calórica, se alcance uma melhor qualidade na alimentação. Devemos pensar nas calorias sim, mas muito mais na composição dos alimentos que ingerimos.

Entre as diversas formas de orientação dietética, a mais aceita cientificamente é a dieta hipocalórica balanceada. Devemos ter cuidado com “dietas da moda”, dietas muito restritivas, dietas que eliminam lactose e glúten em pacientes que não são intolerantes, pois não tem comprovação científica de superioridade e são difíceis de seguir à longo prazo, fazendo com que o paciente volte aos hábitos anteriores.

O acompanhamento de um nutricionista é de grande valor para identificar as mudanças necessárias em cada caso.

Exercício

Exercício é uma atividade física planejada e estruturada com o propósito de melhorar ou manter o condicionamento físico e apresenta uma série de benefícios para o paciente obeso. Entre os diversos efeitos estão:

  • a diminuição do apetite;
  • o aumento da ação da insulina;
  • a melhora do perfil de gorduras;
  • a melhora da sensação de bem-estar e autoestima.
  • Redução da massa gorda e aumento de massa magra

O paciente deve realizar exercícios regulares, aeróbicos e resistidos, pelo menos de 30 a 40 minutos, ao menos 4 vezes por semana, inicialmente leves e a seguir moderados. Ideal para pessoas obesas de 250-300 minutos por semana. Na maioria das vezes, a simples recomendação de caminhadas rotineiras já provoca grandes benefícios, estando incluída no que se denomina “mudança do estilo de vida” do paciente.

Tratamento Medicamentoso

Um tratamento para perda de peso é eficaz quando há redução maior ou igual a 1% do peso corporal por mês, atingindo pelo menos 5% em 3 a 6 meses. A literatura respalda que a diminuição de 5 a 10% de peso reduz de forma significativa os fatores de risco para diabetes e doenças cardiovasculares.

O uso de medicamentos no tratamento da obesidade e sobrepeso está indicado quando houver falha do tratamento não farmacológico, em pacientes com : – IMC igual ou superior a 30 kg/m²; – IMC igual ou superior a 25 kg/m² associado a outros fatores de risco, como a hipertensão arterial, DM tipo 2, hiperlipidemia, apneia do sono, osteoartrose, gota, entre outras; – com circunferência abdominal maior ou igual a 102cm (homens) e 88cm (mulheres).

A obesidade é doença crônica e requer tratamento de longo prazo. Por isso é tão importante utilizarmos medicações seguras e estudadas, que podem ser usadas por anos a fio, sem trazer malefícios aos pacientes. Devemos estar atentos e fugir de promessas milagrosas, fórmulas manipuladas que misturam diversos ingredientes, medicações ditas “naturais” que muitas vezes estão contaminadas com substâncias duvidosas, termogênicos etc.

Entre as medicações que dispomos para tratamento de obesidade estão:

– Sibutramina: aumenta a saciedade e o gasto energético. Possui como efeitos colaterais  taquicardia, dor de cabeça, insônia, boca seca e constipação. Não deve ser usada para pessoas com risco cardiovascular elevado, histórico de infarto, AVC ou arritmias. Nos demais pacientes, tem um perfil de segurança satisfatório, tendo bom resultado na maioria dos pacientes.

– Orlistate: diminui a absorção de 30% da gordura ingerida pelo intestino. Tem como efeitos colaterais diarreia, flatulência, incontinência fecal e dor abdominal. Comprovou nos estudos reduzir o risco de diabetes tipo 2 e melhorar parâmetros da síndrome metabólica.

– Liraglutida: análogo do hormônio GLP-1 também usado para tratamento de diabetes, diminui o esvaziamento gástrico e aumenta a saciedade. Age a nível central nos centros de prazer e recompensa. Seus efeitos colaterais mais comuns são náuseas, diarreia e dor de cabeça geralmente transitórias e que, na maioria dos casos, cessam com o decorrer do tempo.

– Lisdexanfetamina: medicação que leva à perda de peso em pacientes com comprovada compulsão alimentar. Contraindicada em pacientes com cardiopatia, hipertensão, glaucoma e ansiedade. Pode apresentar como efeitos colaterais dor de cabeça, insônia, desconforto abdominal, episódio de mania

– Associação de liberação lenta de bupropiona com naltrexona: já aprovada no Brasil, mas ainda não distribuída nas farmácias. Ambas as medicações isoladamente geram pouca perda de peso, mas em conjunto, na forma de liberação lenta produzem moderada perda de peso. Os principais efeitos colaterais são náusea, contipaçºao dor de cabeça, tontura.

Outras possibilidades terapêuticas compreendem medicações que ajudam no controle da ansiedade e do hábito beliscador, como topiramato, bupropiona entre outros.

Diversos antidepressivos e antipsicóticos podem levar ao ganho de peso, sendo importante uma troca de informações entre os profissionais que acompanham o paciente.

Tratamento Cirúrgico   

As indicações atuais para cirurgia bariátrica são pacientes com Índice de Massa Corpórea (IMC) acima de 40 kg/m2 e pacientes com IMC maior que 35 kg/m2, que apresentem comorbidades (doenças agravadas pela obesidade e que melhoram com o tratamento eficaz) que ameacem a vida, tais como diabetes tipo 2, apneia do sono, hipertensão arterial, doenças do colesterol, doença coronariana, osteoartrites e outras.

A cirurgia bariátrica será tópico de outro post. Fique atento!

mulher com obesidade em consulta médica
obesa no consultório

ETIOLOGIA

Quando a ingestão de energia excede o gasto energético, o excedente calórico se armazena no corpo. As causas principais de obesidade são genéticas, ambientais, endócrinas, metabólicas, comportamentais e sociais, porém nos últimos anos há grande influência por parte dos fatores genéticos e ambientais, que são responsáveis pelo progressivo aumento dessa doença.

COMPLICAÇÕES METABÓLICAS DA OBESIDADE

  • Resistência à insulina: a capacidade da insulina em estimular o aproveitamento, a oxidação e o armazenamento de glicose nos músculos e suprimir as concentrações de ácidos graxos livres é reduzida nos casos de obesidade, por consequência as altas taxas de ácidos graxos no plasma levam a um estado de resistência à insulina, tanto nos músculos como no fígado, o que pode resultar numa hiperinsulinemia e no desenvolvimento de diabetes melito tipo 2.
  • Hipertensão: o paciente obeso desenvolve um volume circulatório aumentado, vasoconstricção anormal, relaxamento valvular diminuído e aumento do débito cardíaco, tudo isso aumenta o risco para hipertensão.
  • Dislipidemia: obesidade da parte central mais diabete melito tipo 2 estão altamente associados ao aumento de triglicerídeos, decréscimo de lipoproteínas de alta densidade (HDL) e alta concentração de lipoproteínas de baixa densidade (LDL), isso resulta em hipertrigliceridemia que pode cursar com aterosclerose e, consequentemente, patologias cardiovasculares.

DIANÓSTICO

É preciso determinar o nível de risco para a saúde do paciente obeso e isso pode ser coletado através da avaliação clínica, enfatizando os antecedentes pessoais e familiares da anamnese:

  • Idade e início da obesidade;
  • Curso da obesidade ao longo do tempo;
  • Fatores desencadeantes e de manutenção;
  • Hábitos alimentares;
  • Atividade física;
  • Estilo de vida;
  • Aspectos psicológicos: sintomas sugestivos de doenças endócrinas e uso de fármacos.

EXAMES COMPLEMENTARES

  • Exames de imagem:
  • USG: além da avaliação do tecido adiposo, também avalia tecidos mais profundos nas diferentes regiões corporais. 
  • TC: preciso e confiável para quantificar o tecido adiposo subcutâneo e, em especial, o intra-abdominal.
  • RNM: diagnóstico e acompanhamento da gordura visceral em indivíduos com alto risco e que estejam em tratamento para perder peso.
  • Exames bioquímicos que identificam alterações endócrino-metabólicas e outros fatores de risco como DM, hipotireoidismo, DLP ou hiperuricemia.

TRATAMENTO NUTRICIONAL

  • Consiste na correlação entre orientação dietética, mudança de conduta/estilo de vida, cuidados médicos (medicamentos, cirurgia) e prática de atividade física. 
  • É importante que o paciente participe da escolha da dietoterapia, pois isso facilita adesão e manutenção do tratamento.

TRATAMENTO CIRÚRGICO

Indicações:

  • Pacientes com obesidade grau 3 (IMC maior ou igual a 40kg/m2), mesmo sem comorbidades e que não responderam ao tratamento conservador (dieta, exercícios físicos, psicoterapia) durante pelo menos 2 anos sob orientação adequada;
  • Portadores de obesidade grau 2 (IMC entre 35 e 39,9kg/m2) com comorbidades e que não responderam ao tratamento conservador realizado por pelo menos 2 anos.

Contraindicações:  

  • Causas endócrinas tratáveis de obesidade;
  • Transtornos psicóticos graves;
  • Transtornos do comportamento alimentar;
  • Dependência química (álcool e/ou drogas);
  • Insuficiência orgânica grave.

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