Perda de peso e mortalidade do século 21
Rachel Giovanella
Publicado em 20 de maio de 2022
Compartilhe:

Perda de peso e mortalidade do século 21

Perda de peso de 10% reduz o risco de mortalidade

A perda de peso de 10% reduz o risco de mortalidade, pessoas com diabetes tipo 2 têm um risco maior de mortalidade por todas as causas do que aqueles sem diabetes. Embora esse risco tenha diminuído ao longo do tempo, devido à melhoria nos tratamentos disponíveis, o risco de morte associado ao diabetes é de cerca de 6 mortes/1.000 pessoas-ano a mais.

Em um recente estudo publicado, Look AHEAD,  5.145 adultos de 45 a 76 anos com diabetes tipo 2 e IMC de pelo menos 25 kg/m2 (ou seja, sobrepeso ou obesidade) foram acompanhados por 16,7 anos. Os que receberam orientações intensivas de dieta e atividade física e perderam pelo menos 10% do peso em 1 ano, tiveram uma redução de 20% na mortalidade geral.

Mortes por estilo de vida

Não houve diferença no número de mortes entre os que fizeram modificação do estilo de vida, mas que não perderam peso, e os do grupo com orientações gerais. A intervenção no estilo de vida teve muitos outros benefícios, incluindo controle da glicose e remissão do diabetes, condicionamento físico, incapacidade, pressão arterial sistólica, velocidade da marcha e  função renal.

Perdas de peso mais modestas também demonstraram melhorar muitos outros resultados de saúde, incluindo resultados de grande importância para pacientes e médicos. Mas dentro do possível, devemos  objetivar perdas de 10% ou mais do peso inicial para termos benefícios concretos em sobrevida.

Estudo teve como objetivo investigar a associação entre alterações de peso na vida adulta e sua relação com mortalidade a partir de dados do estudo NHANES. Para isso, realizaram um estudo de coorte prospectivo com 36.051 participantes com idade inicial de 25 anos e que foram acompanhados durante 32 anos.

As alterações de peso e IMC destes indivíduos foram avaliadas aos 47 e 57 anos durante o acompanhamento. No início do estudo, foi colhida informação do peso de 10 anos antes, ou seja, aos 15 anos de idade dos participantes.

Dos 25 aos 57 anos, toda a vida adulta, os participantes ganharam em média 13,4 kg, sendo 8,8 kg entre 25 e 47 anos e 4,4 kg entre 47 e 57 anos. Dos 25 aos 57 anos 26,9% dos indivíduos deixaram o quadro de não obesidade para obesidade, enquanto somente 1,4% deixaram a situação de obeso para não obeso. No período do estudo ocorreram 10.500 mortes, sendo 2.287 por problemas cardiovasculares e 2.316 decorrentes de câncer.

Foi encontrada uma associação entre o IMC aos 25 anos e mortalidade, sendo que obesidade e sobrepeso se associaram significativamente com o aumento do risco de mortalidade geral. Conforme os participantes ficavam mais velhos, o baixo peso passou a se associar com a mortalidade significativamente, enquanto a associação com obesidade ficou mais tênue e não houve mais associação com o sobrepeso, mesmo quando excluídos os participantes com diabetes, doença cardiovascular ou câncer.

Os pacientes que se mantiveram obesos desde o inicio do estudo apresentaram maiores riscos para mortalidade geral na vida adulta (HR 1,72 de 25 a 47 anos, HR 1,61 de 25 a 57 anos). Migra de não obeso para obeso aumentou 22%o risco de mortalidade, enquanto migrar de obeso para não obeso (entre 47 e 57 anos) aumentou em 30% o risco de mortalidade. Quando classificados por ganho de peso, indivíduos com ganho de peso >20kg durante todo o período do estudo apresentaram aumento de risco para mortalidade, o que não ocorreu quando o ganho de peso foi inferior a este valor.

Os autores concluíram que obesidade durante toda a vida adulta bem como o ganho de peso entre juventude e fim da vida adulta foram associados com o aumento do risco de mortalidade geral e mortalidade por doença cardíaca, assim como a perda de peso do meio para o final da vida adulta também aumenta este risco. Dessa forma, os pesquisadores alertaram que a manutenção de um peso normal durante a vida adulta e a prevenção do ganho de peso no início desta seriam formas importantes de prevenir mortalidade precoce na vida adulta avançada.

A relação entre obesidade e mortalidade estaria subestimada, segundo especialistas. Eles afirmam que os estudos têm levado em consideração apenas o índice de massa corpórea (IMC) medido uma vez em um determinado ponto no tempo.

Segundo os cientistas, esses estudos não conseguem distinguir entre as pessoas que nunca excederam peso normal e as pessoas de peso normal que anteriormente estavam com sobrepeso ou obesas. Isso faz com que negligenciam os efeitos duradouros da obesidade no passado. Os estudos também normalmente não levam em conta o fato de que a perda de peso é muitas vezes associada com alguma doença, dizem os pesquisadores.

“Os riscos da obesidade são obscurecidos em pesquisas anteriores, porque a maioria incorpora informações sobre o peso num único ponto no tempo”, diz o principal autor Andrew Stokes, professor assistente de saúde global na Universidade de Boston.

Quando é feita tal distinção, os estudos os efeitos adversos à saúde constatados crescem em categorias de peso acima do normal, e nenhum efeito protetor do excesso de peso é observado.

“O simples passo de incorporação da história de peso do paciente esclarece os riscos da obesidade e mostra que eles são muito mais elevados.”

Stokes e o co-autor Samuel Preston, professor de sociologia na Universidade da Pensilvânia, testaram um modelo que afere o estado de obesidade por meio de relatórios de peso máximo de vida dos indivíduos, ao invés de apenas um “instantâneo” levantamento de peso.

Eles descobriram que a taxa de mortalidade para as pessoas que estavam com peso normal no momento do exame foi 27% mais elevada do que a taxa para as pessoas cujo peso nunca excedeu a categoria.

Eles também encontraram uma maior prevalência de diabetes e doenças cardiovasculares entre as pessoas que tinham atingido um nível maior do que o normal de IMC e, em seguida, perderam peso, em comparação com pessoas que permaneceram na categoria de IMC mais alta.

HISTÓRIAS DE PESO

Stokes e Preston argumentam que o uso de “histórias” de peso em estudos de obesidade e mortalidade é importante por duas razões. Uma das razões é que a obesidade em uma determinada idade podem predispor as pessoas à doença, independentemente da perda de peso subsequente. A outra é que a perda de peso é frequentemente causada por doença.

Os pesquisadores usaram dados de grande escala National Health and Nutrition Examination Survey, que liga os dados disponíveis de 1988 a 1994 e 1999 a 2010, para registros de certidão de morte até 2011. A pesquisa pediu aos entrevistados para recordar o seu peso máximo em seu tempo de vida, bem como a gravação de seu peso no momento da pesquisa.

Daqueles na categoria de peso normal no momento da pesquisa, 39% tinham a transição para essa categoria a partir de categorias de maior peso.

O estudo utilizou critérios estatísticos para comparar o desempenho de vários modelos, incluindo alguns que incluiu dados sobre histórias de peso e outros que não o fizeram. Os pesquisadores descobriram que o peso no momento da pesquisa foi um pobre preditor de mortalidade, em comparação com modelos usando dados sobre peso máximo da vida.

Resultados conflitantes

O estudo, publicado online na revista Proceedings, da Academia Nacional de Ciências, ocorre em meio à polêmica sobre a relação entre obesidade e mortalidade, com alguns estudos recentes indicando que o excesso de peso é um fator de proteção em saúde.

Um desses estudos, uma grande meta-análise em 2013, liderado por um pesquisador do Centro de Controle e Prevenção de Doenças, indicou que o excesso de peso foi associado com menor mortalidade, e que a obesidade leve não conferiu risco de morte.

Um certo número de estudos anteriores mostrou que pessoas que perdem peso têm maiores taxas de morte do que aqueles que mantêm seu peso ao longo do tempo. Parte da razão para essa disparidade é que existem doenças que podem ser causa de perda de peso, diminuição do apetite ou de demandas metabólicas aumentadas. Poucos estudos adequadamente contabilizados têm esse viés, notam Stokes e Preston.

privação de sono e obesidade

Eles pedem mais pesquisas, com histórias de peso, dizendo que tal abordagem provou ser útil em estudos relacionados a hábitos de fumo, que distinguem entre antigos e atuais fumantes e aqueles que nunca fumaram.

O peso corporal de um indivíduo, influenciado por um componente genético, é o resultado do balanço entre ingesta de calorias, níveis de atividade e gastos metabólicos. A perda de peso é uma queixa comum, principalmente entre pacientes idosos, cuja prevalência varia entre 10% e 20%, e constitui muitas vezes um desafio ao médico por ser uma manifestação inespecífica associada a diversas condições.

A importância de se valorizar essa queixa pode ser demonstrada com dados de estudos retrospectivos, que mostram mortalidade variando entre 9% e 38% em dois a três anos para idosos com perda de peso significativa. Apenas um terço dos pacientes com perda de peso tende a relatar tal dado como uma queixa ao seu médico, o que nos mostra que se deve questionar ativamente os pacientes durante a consulta clínica.

Definimos perda de peso clinicamente importante como uma diminuição de ao menos 5 kg ou maior do que 5% do peso de base, durante um período de seis a doze meses.  Os caminhos que levam à perda de peso incluem o aumento da demanda metabólica, a diminuição da ingesta calórica ou as perdas de energia (através das fezes ou da urina, por exemplo), sabendo que esses fatores podem estar superpostos.

Didaticamente, podemos dividir a perda de peso em voluntária ou involuntária, sendo essa última quase sempre um sinal de doença que merece investigação, a despeito de estar ligada a aumento ou diminuição de apetite. Há um estudo prospectivo que aponta uma mortalidade de 25% em um ano para pacientes com perda de peso involuntária significativa. Já as perdas voluntárias, quando não ligadas a um paciente obeso ou com sobrepeso que sabidamente está fazendo dieta, devem remeter a problemas psiquiátricos ou à busca por modelos estéticos impostos pela sociedade.

Leia mais: https://drarachelgiovanella.com.br/blog

Fonte: https://abeso.org.br/a-relacao-entre-obesidade-e-mortalidade-estaria-subestimada-segundo-especialistas/